ANTÍGONA

uma análise filosófica

Autores

  • Luyara Santiago Ferreira IFSP Campus Guarulhos

Resumo

O presente projeto propõe uma análise filosófica da peça de teatro Antígona escrita
no século V a.C. pelo tragediógrafo grego Sófocles. Trata-se de um projeto
interdisciplinar que articula filosofia, literatura e teatro. A partir de textos de
filósofos e comentadores que problematizaram a tragédia sofocliana nos séculos
XIX, XX e XXI, procurar-se-á identificar e analisar os problemas filosóficos que
foram por eles levantados e comentados. Para realização desta problematização
analisar-se-á as características inerentes à personagem Antígona, o embate entre
ela e seu tio e rei Creonte, e a polarização entre a heroína trágica e sua irmã
Ismênia. Portadora de uma carga semântica muito fecunda, Antígona pode tanto
ser lida como representante do direito divino e do sangue real, quanto afirmadora
e denunciadora dos limites da democracia da época. Ao analisar o conflito entre a
filha/irmã de Édipo e o irmão de Jocasta procurar-se-á destacar os problemas que
seriam inerentes a este embate e que poderiam ser analisados à luz desta oposição,
a saber, o problema da justiça, do Estado, do direito, do público e do privado, da
religião e da política. Ao analisar o conflito existente entre as irmãs antípodas,
buscar-se-á identificar e compreender a tipologia do feminino corrente na
sociedade e cultura grega clássica, bem como demonstrar que a heroína trágica
Antígona surgiria como uma expressão do feminino que procuraria promover a
ruptura ou o deslocamento em relação à representação homogênea acerca do
feminino reinante neste período. Destaca-se por fim que a análise da tragédia
Antígona contribui para a compreensão da relação de aproximação e ruptura entre
a cultura ocidental contemporânea e a Grécia clássica, tanto no que se refere aos
aspectos institucionais quanto aos modos de vida. Antígona, ao fazer uso da
palavra pública, se apresenta como defensora da democracia. No entanto, entre os

gregos antigos, a mulher não fazia parte do espaço coletivo no qual Antígona
lançava voz. Neste sentido, a filha de Édipo apareceria como defensora de uma
democracia que estaria para além daquela defendida pela sociedade patriarcal
grega. Ao requerer um espaço de voz na esfera pública e desafiar o poder do tirano,
a peça Antígona toca em questões que nos são inerentes e que sensibilizam nossa
época, a saber: a importância da democracia enquanto instituição política
legitimadora da pluralidade, da afirmação dos diferentes modos de vida e do pleno
exercício da cidadania; a centralidade do direito, investigando o seu papel no
interior da sociedade democrática e sua vinculação aos direitos da mulher; a
discussão em torno do conceito de justiça promovida pelo embate Antígona e
Creonte. O papel da mulher enquanto possuidora de voz ativa e distinta, portanto,
da tipologia apresentada por Sófocles na personagem Ismênia. A nosso ver, ao
possibilitar a problematização dos temas elencados acima, a peça Antígona se
apresenta como objeto de estudo importante para compreender não somente a
sociedade grega da qual somos herdeiros, mas, sobretudo, a nossa época.

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Publicado

2023-01-11

Como Citar

Santiago Ferreira, L. (2023). ANTÍGONA: uma análise filosófica. Portal De Conferências Da Semana Do Conhecimento, 3(1), 1–17. Recuperado de https://sdc.guarulhos.sp.gov.br/index.php/SDC/article/view/350